quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Leviatã

Não, não é o livro de Thomas Hobbes.
Não, não se trata de uma besta bíblica do mar e do medo (pelo menos não a princípio).

Esse é o nome de um livro de Paul Auster. Uma obra que se dilata e contrái em diversas câmadas, tornando tênues os limites da ficção e da vida.
Se Aristóteles lesse Paul Auster ele o consideraria um trombadinha, um mero detentor da técnica manual da escrita, mas não de seu significado. Em sua obra não há nada de necessário, provável. Há apenas, no decorrer das páginas, a catarse.
Usando aspectos da sua vida (como sua ex-mulher Sophie Calle, transformada em Maria Turner), e o subterfúgio da ficção, Paul Auster nos traz recorrentemente o espanto, a sensação compreendida em silêncio de que na ficção, assim como na vida, é possível o absurdo, o inesperado.
Em Leviatã há um livro que fala de outro livro. Um livro que cresce no corpo de outro.
Há a crítica ao Leviatã da democracia americana, imagem espelhada no igual e no inverso, do monstro da monarquia absoluta.
Há o todo, e há o muito pouco.
Os limites da auto-reflexibilidade ficam tesos - e se afrouxam.

A órbita maior é a dúvida sobre a mera existência do objeto livro.
Se vê então, fechando um pouco os olhos, a crítica a uma sociedade, um tempo, um não-fato.
Quando os olhos se fecham de fato tudo volta a seu lugar: o livro fruto "espontâneo" de um homem no tempo, decorrência de vida e afeto - pensamento.


Grande livro esse.

Nenhum comentário: