quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Factotum

Fante, Salinger, até mesmo Jim Dodge, são nomes que antes eu relacionava a Bukowski. Percebia em todos eles certa amargura, como uma nota oscilante que paira no ar e se perde sem insistir.
O único mote é a inadequação, exclusivamente para esse fim todos os esforços são dispostos: se tornar essa massa amorfa da não ação.
Em Factotum, a motivação parece ser a mesma. O personagem erra por todos os cantos dos Estados Unidos, único lar para esse tipo de convicção, entre garrafas de bebida, prisões, mulheres, e principalmente ironia.
Entretanto, dessa vez isso não me incomodou, não me impeliu a fechar imediatamente o livro, ou a terminá-lo apenas para poder criticá-lo. Na verdade, dessa vez, isso me encantou.
Pois senti que atrás da negatividade do autor e do personagem havia algo que não era "esvaziado pela perspectiva pós moderna". No brilho dos olhos, no canto dos lábios, havia um som de sim, um gosto de alegria ou afeto. Quando eu terminei o livro, eu levantei os olhos fitando o nada, e sorri, ouvindo o som de um novo presente que se constitui através da mudança, rápida e perene, daquele que é transformado pela leitura.

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