quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O Ventre

Ser recusado por seus pais, pois é fruto de um caso extra-conjugal. Perder tudo para o irmão, inclusive o grande amor. Levar zero em tudo quanto é teste, inclusive nos informais. Esse é tipo de coisa que faz a materialidade da vida cair como um tijolo sobre os devaneios de um homem lúcido.
O protagonista de O Ventre era um aborto. Poderia ser seco por dentro, no entanto, a doçura que nele persiste não permite que morra tão cedo, que viva o destino em branco que lhe parecia prometido.
No início ele chama a todos os homens de tripas, de tripas inchadas regurgitadas por ventres pecaminosos. Ele não é filho de seu pai, e por isso é sutilmente menosprezado. Todos os filhos que perpassam o livro são errôneos, derivados sempre de pactos quebrados.
Conforme se desenrola o livro a amargura do protagonista se torna mais leve, e calmamente nos deparamos com a amargura de todos os outros personagens. Todos são infelizes, uns mais outro menos, e todos, sem exceção, vivem num mundo sem deuses, com o mérito e a crueza da materialidade.
O Ventre é um livro existencialista, que trata a felicidade como ilusão, e traz a responsabilidade de cada um construir o próprio presente. Sem que se apele para a sombra do passado, para o fantasma do futuro, e tampouco para o maniqueísmo do destino.

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